quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Especial – Dezesseis anos sem Nerede

* O texto abaixo é um trabalho acadêmico produzido em 2008 por Albanir Buzzi Júnior e Daniel do Santos. A matéria não foi atualizada e está como foi feita pelos alunos em atividade na sala de aula.

Única equipe de Rio do Sul a conquistar os Jogos Abertos e o Campeonato Estadual da Divisão Especial.

A capital do Alto Vale do Itajaí começou a ser conhecida no futsal catarinense, através de uma equipe patrocinada pela empresa de produtos de medicamentos hospitalares, Nerede. Formada a partir de 1986 através de brincadeiras de fim de semana. Os empregados da companhia resolveram participar da primeira Taça Cidade, realizada no município de Lontras. Um dos sócios da empresa, Nilo Borgonovo, afirma que a equipe era fraca para disputar o torneio, foi quando surgiram as primeiras contratações para reforçar o conjunto que venceu a campeonato.

A primeira competição de destaque vencida pela Nerede foi o Torneio de Verão, realizado em Rio do Sul pelo grupo de amigos da Associação Brejeiros da Madrugada no ano de 1989. Ademir Fernando Caetano, ex-jogador da equipe e hoje radialista da Super Difusora e Amanda FM de Rio do Sul, participou da final, e lembra que foi um jogo marcante:

- Saquari era um jogador da nossa equipe que tinha cabelo comprido e barba, nós havíamos prometido que se conquistássemos o torneio cortaríamos barba e o cabelo. E foi o que fizemos. Ganhamos a taça e sobrou pra ele, afirmou.

A maioria dos atletas que jogavam, trabalhavam na empresa durante o dia. Os novos contratados, eram remanejados para setores que se adequavam. Na época não existiam computadores na empresa e grande parte dos jogadores/trabalhadores ficava no setor administrativo. Mas, nem todos eram funcionários da empresa, alguns atletas apenas treinavam na parte da manhã e da tarde. Os que trabalhavam eram liberados às 17h para os treinos.

Em 1992 a equipe chegou a final do campeonato catarinense de futsal da Divisão Especial. Na decisão, o time foi derrotado pela Sadia, do município de Concórdia, Oeste do Estado. Para disputar os jogos a Nerede era a única agremiação da cidade que possuía ônibus próprio. Toda a estrutura foi bancada pela empresa de medicamentos hospitalares, hoje ainda comanda por Nilo e Nelson Borgonovo. Uma programação era feita para cada viagem, os jogadores sabiam horário de saída, chegada, local da alimentação ou estadia.

Jair Aguiar trabalhou como plantonista esportivo na rádio Mirador, que transmitia os jogos na época. Ele acompanhava do prédio da emissora os outros jogos da rodada. Enquanto o falecido Aládio José e Lourival Goulart narravam a partida, Chico Santos e Aldo Pereira eram os repórteres das jornadas esportivas. Jair explica que era uma coisa diferente para a cidade, o ginásio Arternir Werner lotava.

- Eu saia do estúdio que é aprova de som e me dirigia até a redação da rádio para fazer uma ligação ou acompanhar os resultados da rodada. Da redação eu ouvia a torcida. Algumas vezes não precisava nem narrar ou dizer de quem era o gol. Da própria rádio ouvia-se o eco da torcida em comemoração ao gol. A minha vontade era de largar o plantão atravessar a ponte do bairro Canoas e torcer junto.

Um ano depois a equipe representou Rio do Sul no JASC (Jogos Abertos de Santa Catarina) em Tubarão, onde conquistou o título na prorrogação contra, o município de Otacílio Costa. O massagista da equipe na época José Luiz Sevegnani, lembra que essa competição marcou. A equipe contava com doze jogadores, mas ao longo da competição alguns se machucaram.

- Eu lembro que nós jogamos a final desfalcados. Um dos nossos jogadores foi expulso e dois se machucaram e jogaram sem estar em completas condições físicas. Ganhamos a final, praticamente com o goleiro e três jogadores de linha, destacou.

Para o massagista, o grande diferencial da equipe na época era o conjunto, os jogadores tratavam-se como irmãos, não havia desavenças no grupo.

Em 1994, a Nerede estava novamente na decisão do campeonato catarinense de futsal da divisão especial. Contra a equipe que tirou o título de Rio do Sul em 1992. A chance da revanche contra a Sadia, havia chegado. No primeiro jogo da decisão disputado em Rio do Sul o time da casa, venceu por 9 a 6. O jogo de volta  em Concórdia terminou empatado: 4 a 4. Os resultados deram o primeiro e único título de Rio do Sul no campeonato estadual na divisão especial.

Após a conquista do título a equipe encerrou as atividades. Questionado sobre o fim da equipe logo após o auge, Nilo revela:

- Eu e o meu irmão Nelson Borgonovo, que também é sócio da empresa, já havíamos tomado essa decisão no começo do ano. Tivemos que manter em segredo para não chegar ao conhecimento dos jogadores e comissão técnica. A empresa já havia alcançado o marketing necessário.

Na época o dinheiro era o cruzeiro.  Nos dias atuais os gastos com a equipe representariam R$ 20.000,00 por mês.

- Depois do estadual teríamos o próximo desafio seria competições nacionais e aí os gastos triplicariam o que era inviável, relatou Borgonovo.

Na época o único apoio recebido pela Fundação Municipal de Esportes era a liberação do ginásio Artenir Werner, no bairro Canoas, para os treinos e jogos. A bilheteria era revertida para pagar a arbitragem. A média de público variava de 800 a 1.400 torcedores. A Nerede trouxe na época algumas melhorias que até hoje são percebidas no ginásio, como a aquisição do placar eletrônico e das redes de proteção.

Um ano depois do fim da equipe, Rio do Sul foi sede dos Jogos Abertos e o clima não foi dos melhores. Os torcedores queriam que a equipe representasse o município em casa.

Futuro:

O fim da maior e mais organizada equipe de Futsal de Rio do Sul faz até hoje surgir na cabeça das pessoas que assistiram ou participaram, perguntar: Por que não surge uma nova Nerede? Desde daquele tempo, tentativas foram feitas para reerguer a modalidade na cidade. A falta de apoio de uma grande empresa é apontado por todos, como o fator principal, para o não surgimento de um novo modelo de organização.

O ano de 2008 pode ficar conhecido, como o ano no renascimento do futebol de salão para Rio do Sul. Com uma diretoria formada, com organização, apoio da fundação e empresas. Um time começou bem a disputa do estadual da primeira divisão. Comandado fora de quadra pelo ex-jogador profissional da seleção brasileira, Douglas Pierroti, e que estava na Itália, o time é formado por atletas jovens de Rio do Sul e região. Segundo o superintendente da Fundação Municipal de Desportos e ex-comandante da Nerede, o principal objetivo é chegar aos jogos abertos.

- Esperamos um crescimento gradativo, desta equipe. A esperança e chegar bem nos jogos abertos. Não queremos pular nem um degrau, pretendemos ir devagar, com as coisas.

Alguns atletas que passaram pela Nerede ainda destacam-se no futsal internacional. Alexandre foi goleiro do time por muito tempo. Hoje joga na Itália. Após conseguir dupla cidadania passou a ser o titular da Seleção Italiana de Futsal.

Campeonato Catarinense de Futsal Divisão Especial 1994:

1ª fase - Turno

Agrolândia 3 x 1 Nerede
AABB (Florianópolis) 3 x 4 Nerede
Nerede 8 x 2 Mafra
Tuper ( São Bento do Sul) 5 x 1 Nerede
Nerede 2 x 1 Colegial
Moitas 0 x 5 Nerede

1ª fase - Returno:

Nerede 0 x 1 Agrolândia
Colegial 2 x 4 Nerede
Nerede 3 x 2 Tuper (São Bento do Sul)
Nerede 4 x 0 Moitas
Mafra 1 x 2 Nerede
Nerede 4 x 2 AABB (Florianópolis)

Segunda Fase:


AABB (Florianópolis) 3 x 3 Nerede
Nerede 4 x 3 Xaxiense
Sadia 2 x 3 Nerede
Nerede 2 x 1 São Miguel
Xaxiense 0 x 4 Nerede
Nerede 1 x 2 Sadia
São Miguel 3 x 1 Nerede
Nerede 12 x 2 AABB (Florianópolis)

Quadrangular Semifinal

Turno

Nerede 0 x 0 Moitas
Nerede 5 x 5 Sadia
Nerede 6 x 2 Tuper (São Bento do Sul)

Returno

Moitas 3 x 5 Nerede
Sadia 2 x 0 Nerede
Tuper (São Bento do Sul) 2 x 3 Nerede

Decisão

Nerede 9 x 6 Sadia
Sadia 4 x 4 Nerede

Escalação Inicial Nerede:

Alexandre
Geremias
Gilmar
Bali
Raul

Técnico: Cícero Gil

Escalação Inicial Sadia:

Léo
Xavantina
Marquinhos
Gil 
Clóvis

Técnico: Artemio Artifon
Árbitros

José Acácio dos Santos
João Antônio da Silva

Renda : R$ 1.200,00
Pagantes: 1.100
Não Pagantes: 400

Um comentário:

Franciane Borgonovo disse...

Daniel,
Brilhante este artigo, como filha do Nilo pude participar de todos estes momentos.. de cada jogo.. de cada conquista e cada derrota.
Muitas foram as viagens, as brincadeiras e o entrosamento da equipe.
Posso dizer que foi uma perda muito grande para nosso município o fim da Equipe. Porém muito grandioso e gratificante poder ter feito parte desta história.